NILSON BORGES FILHO
ORIDES MEZZAROBA
Gramsci dedicou boa parte de seus escritos teorizando sobre o partido político da classe trabalhadora. A base do seu pensamento encontra-se nos “Cadernos do Cárcere”, quando inspira-se no Príncipe, de Maquiavel, para produzir um estudo especifico sobre o agente da vontade coletiva revolucionária. Ressalta-se, contudo, que Gramsci não reduziu a questão do partido político apenas formulando teorias, mesmo porque coube a ele, juntamente com outros ativistas, a fundação do Partido Comunista Italiano, a partir da cisão ocorrida no Partido Socialista, no início dos anos 20.
O moderno príncipe, conforme designação do próprio Gramsci, não pode ser uma pessoa real ou um indivíduo concreto, mas, sim, um organismo, agente da vontade coletiva , um elemento complexo da sociedade. Assim, para Gramsci, a função que Maquiavel atribuía a um indivíduo (O Príncipe) cabe a um organismo social, que já foi dado pelo desenvolvimento histórico.
O partido político, segundo o filósofo italiano, é a primeira célula na qual se aglomeram germes da vontade coletiva, que tendem a se tornar universais e totais. Ou, como afirma Carlos Nelson Coutinho, principal intérprete da obra gramsciana no Brasil, o partido político - na visão de Antônio Gramsci - é um dos elementos mais característicos da rede de organizações que forma a moderna sociedade civil. Porém, para melhor entender esta nova visão de partido político elaborada por Gramsci, mister se faz uma recuperação do papel que Lênin dava ao agente da vontade coletiva, até porque Gramsci não fez nada além do que dar continuidade à teoria do líder de revolução bolchevista. É importante assinalar que a dependência teórica gramsciana às formulações de Lênin, no que se refere ao partido político da classe operária, não invalida a capacidade renovadora de Gramsci em relação à herança dialética deixada pelo maior teórico moderno da filosofia da práxis.
Coutinho observa que o primeiro ponto de continuidade entre Gramsci e Lênin se revela na própria função que ambos atribuem ao partido político, em sua relação com a classe, pois, para este último, a tarefa básica do partido operário, do partido da revolução socialista, é a de contribuir para superar na classe trabalhadora uma consciência puramente tradeunionista, sindicalista. A rigor, tal superação, no entender de Lênin, implica fornecer os elementos teóricos e organizativos para que essa consciência possa se elevar ao nível da consciência de classe, isto é, ao nível da totalidade.
Alguns pontos considerados fundamentais nas formulações teóricas de Gramsci sobre o partido político revelam que o moderno príncipe deverá se dedicar (1) a uma reforma intelectual e moral, isto é, à questão religiosa ou de uma concepção de mundo (ideologia), e (2) que ele (o partido) não poderá deixar de ser o propagandista e o organizador dessa reforma intelectual e moral, pois tal fato significa criar o terreno para um desenvolvimento ulterior ao da vontade coletiva nacional-popular.
Na verdade, Gramsci vê no partido político a função de elaborar o momento catártico (passagem do momento egoístico-passional para o momento-ético-político), uma vez que contribui para a formação de uma vontade coletiva nacional-popular. Ou seja - segundo interpreta Carlos Nelson Coutinho - o partido político fomenta um grau de consciência capaz de permitir uma iniciativa política que englobe a totalidade dos extratos sociais de uma nação, capaz de incidir sobre a universalidade diferenciada do conjunto das relações sociais.
Em síntese, Gramsci entende que o partido não é um organismo corporativo, mas, sim, um organismo universal, pois a possibilidade de tornar-se classe hegemônica condiciona-se na capacidade da classe operária elaborar, de modo homogêneo e sistemático, uma vontade coletiva nacional-popular, construindo um novo bloco histórico e assumindo o papel de classe dirigente. A construção dessa vontade coletiva é papel prioritário do partido político ou, segundo Gramsci, do moderno príncipe.
Fonte: PCB/SP
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