GELIANE GONZAGA
Geógrafo e Secretário de Organização do PCB-Franca
A revolução industrial colocou a disposição do mundo uma nova etapa no processo de exploração capitalista, cujo homens, mulheres e crianças tinham como única opção de trabalho as indústrias ,recebendo salários baixíssimos que mal garantia sua alimentação diária. A indústria, era sinônimo de produção de riquezas e as novas tecnologias e técnicas de produção a cada dia mais acelerava o terrível processo de exploração da então classe trabalhadora. Hoje em dia, verificamos semelhante processo de exploração do capital também no campo. O chamado agronegócio.
Se analisarmos o processo agrícola principalmente no Brasil no início do século passado, encontramos o café como principal produto de exportação do Brasil do período, sendo que esse, gerou uma elite altamente abastada financeiramente no período em questão. A atividade cafeeira da época gerava uma grande quantidade de empregos, sem os devidos direitos trabalhistas e humanos é logico , que necessitou até mesmo da vinda de trabalhadores de outros países como os italianos para a mão -de obra do café.
Hoje, a atividade agrícola é altamente profissional , com técnicas de produção que visam a exploração do trabalhador rural em uma escala sem precedentes. O agricultor de hoje, é obrigado a ter uma produção altíssima a custo mínimos e isso se da principalmente na política de quem pode mais “engole o outro”. É comum hoje, grupos que dispõe de capitais extremamente altos que ficam migrando de atividades sem vínculos culturais com o meio do trabalhado apenas procurando melhores condições de lucro, assim, quando o café , a soja e outros gêneros estão com seus preços em alta, mudam seu capital de atividade , prostituindo o mercado com grandes produções altamente rentáveis, até que esse ramo, se enfraqueça e o capital é novamente migrado de setor.
Um grande exemplo disso, é a antiga loja de departamentos MIG . O setor estava aquecido e essa grande empresa surgiu da noite para o dia com mais de trinta lojas e ao menor sinal de crise no setor, simplesmente vendeu a rede, fechou lojas não se importando com a grande classe trabalhadora abandonada a sorte .
Na agricultura moderna, não é diferente, grandes empresas transnacionais compram, vende os produtos agrícolas sem que o pequeno produtor se beneficie de seu trabalho no campo. A agressividade da economia de mercado, a ganancia de produzir,a concentração de renda não olha para o campo a não ser com os olhos da exploração.
O agronegócio, veio para fazer a concentração de renda rural por empresas rurais que tem como única mentalidade tirar proveito do trabalho humano. Assim como no setor de supermecados que hoje é dominado por grandes companhias, o setor agrário caminha para a mesma direção . A expulsão dos pequenos trabalhadores do campo por inviabilidade técnica e custos de produção, a concentração de riquezas nas mãos de poucos e principalmente a perda de identidade de gerações de pessoas das áreas interioranas que tem suas vidas, seus valores modificada em alguns anos ,se perdendo uma cultura que foi gerada por séculos.
O agronegócio veio para unir as fronteiras de propriedades, veio para concentrar terras e renda, e aumentar o processo de exôdo rural que tanto prejudica as cidades. Os camponeses de ontem, são os favelados de hoje. A única saída de vários setores sobreviverem é agregar valores nos produtos, as “indústrias rurais,” ficam presas as escandalosas quadrilhas de produção de insumos agrícolas como Monsanto, Bayer, entre outras, cujo preços em grande parte são semelhantes, e as necessidades de volume de produção “obrigam” os agricultores a consumir , e isso claro, é muito mais pesado para os micro e pequenos propriétarios que tem menor ( ou nenhum) poder de barganha e de compra, o que acaba inviabilizando a produção , sendo essas áreas repassadas para os grandes grupos de produtores / exploradores.
O agronegócio também, em busca de mais áreas de atuação gera danos ambientais terríveis; a própria Amazônia é testemunha disso que tem suas áreas invadidas pelas fronteiras agrícolas, gerando devastação e expulsão de nativos. O planeta, não suporta mais esse modelo de consumo e produção atual, é preciso repensar a forma de consumo de cada nação , estado, cidade, família e o agronegócio incita justamente o contrário, demonstra produtividade , produção de riquezas, virilidade econômica, mas esquece de forma brutal as questões sociais. O crescimento da economia só se justifica pelo crescimento vegetativo da população, de outra forma, é acumulação de renda as custas das reservas naturais do planeta, e em muitas vezes, o crescimento é falso, fictício como ficou muito bem claro na atual crise econômica , onde a saúde de empresas tidas como sólidas esfacelaram-se como gelo na fogueira produzido por espectativas futuras , gestões fraudulentas.
O campo brasileiro, não pode mais se iludir para o terror do agronegócio, é lobo em pele de cordeiro, o problema é muito maior do que se supõe certas classes que acham que estão no caminho certo. A tendência é “engolir” os pequenos e médios produtores, esses, ficaram sempre a merce de capital emprestado para “tocar” suas propriedades, e sem dúvida, a concentração de renda que aconteceu nas cidades, encontrou a ferramenta do agronegócio para ampliar seus tentáculos capitalista para o espaço rural.
Não há dúvida que o agronegócio é extremamente produtivo, que a riqueza gerada por essa cadeia produtiva é imensa, produzida mas não distribuída, podendo servir como exemplo o caso da Citrosuco em Bebedouro – SP, que abandonou a cidade a própria sorte ao menor sinal de crise, algumas usinas de alcool , e também, não há como negar que os produtores tradicionais do Brasil não estão preparados para tamanha concorrência e ideologia de mercado o que levará a vários produtores a impossibilidade de continuar com suas atividades. Isso é fato, isso é questão de tempo caso não haja profundas mudanças nesse cenário de exploração agrária.
Para completar o cenário pavoroso criado e controlado nos mínimos detalhes pelos capitalistas, o controle da mídia nos coloca o agronegócio como solução de futuro para o Brasil, sendo que esse o único país do mundo totalmente sustentável pela quantidade de terras agricultáveis, quantidade e qualidade de água disponível, grande território com imensas reservas naturais sendo ele o Brasil, alvo de ambições imperialistas de todo o mundo que além de outras atitudes (da mídia) satanizam os movimentos sociais que de uma forma ou de outra tentam esclarecer a sociedade das atitudes contra os trabalhadores ; servindo como exemplo c o MST, que sem dúvida é o maior movimento social existente no Brasil atualmente, já que vários sindicatos se preocupam mais em qualificar o trabalhador para servir ao agronegócio do que lutar e mobilizar contra ele.
A questão da terra, da distribuição de renda, e principalmente dos danos ambientais, sempre devem permanecer na pauta de qualquer conversa entre os brasileiros. Cabe a cada um de nos, ao invés de apenas ver o que nos mostra a mídia, questionar, debater e principalmente posicionar.
Franca, 12 de abri de 2009.
Nenhum comentário:
Postar um comentário