Na edição do último domingo, a Folha de S.Paulo - caderno "Ribeirão" - publicou reportagem a partir de trechos de entrevistas concedidas pelos 5 candidatos à prefeitura de Franca.
Leia a seguir a íntegra da entrevista de Tito Bellini, candidato à prefeito pelo PCB:
Folha de S.Paulo - Como você e o PCB pretendem tirar a atenção (e os votos) dos eleitores das duas chapas consideradas principais em Franca (PSDB e PT)?
Tito Bellini - Entramos nesta disputa porque acreditamos que podemos acrescentar valores positivos ao debate eleitoral, mostrar que é possível fazer política a partir de idéias e compromissos coletivos. Nesse sentido, nossa intenção não é tirar votos, mas apresentar um programa de ações capazes de transformar Franca numa cidade justa e solidária. Claro que, ao assumirmos determinadas bandeiras, muitas de nossas concepções se chocam com a dos demais candidatos. Caberá então à população distinguir tais diferenças e optar entre elas.
Folha - A linha de campanha de vocês será crítica ou mais amena?
Tito - Diria que nossa campanha será realista. Crítica na análise, pois não podemos deixar de apontar os graves problemas da cidade. E isso não se faz com ofensas pessoais a quem quer que seja. As pessoas já estão cansadas disso. Ao criticar queremos demonstrar à população como é possível o poder público atuar de outro modo, atento às necessidades da maioria dos francanos e não de uma elite apenas.
Folha - Quais problemas você considera os principais de Franca e como resolvê-los?
Tito - O principal problema, histórico, tem relação com o acúmulo de riqueza nas mãos de poucos, algo que nos acompanha desde 1500. A partir disso é que os demais problemas surgem. Como justificar a compra de 6 mil caminhões cheios de brita, gastando meio milhão de reais? Tudo pra a reconstrução de córregos e asfaltamento? Enquanto isso, a saúde pública está um caos, as mães estão sem vagas em creches (faltam 20 mil vagas!) e várias grandes empresas fecharam as portas e demitiram milhares de trabalhadores. Está tudo 100% como gosta de dizer o prefeito?
Folha - O mercado calçadista, principal característica da economia de Franca, vive um momento não muito bom. Em relação à ele, o que têm de propostas?
Tito - É preciso acabar com o mito que Franca é a cidade do calçado. Franca é a cidade do sapateiro, e este hoje está à mingua, representando de modo dramático a realidade do setor calçadista. Enquanto grandes fábricas são fechadas, a cidade ganhe destaque nacional pela geração de empregos, o que aponta para um tendência de mudança no perfil econômico da cidade, mas demonstra a incapacidade do setor calçadista em aproveitar o vigor econômico de Franca. A intervenção do poder público municipal deve ser direcionada para a manutenção do emprego e do trabalho, através principalmente do desenvolvimento de experiências autogestionáveis.
Folha - Quais bandeiras o PCB vai carregar na campanha. Alguma proposta que considera inovadora?
Tito - Nossa principal bandeira é a construção do poder popular. Para que se efetive é necessário uma redistribuição da riqueza produzida na cidade. Duas formas essenciais e viáveis de contribuirmos para isso são os projetos Tarifa Zero e o IPTU Progressivo. Para ambos, a lógica é uma só: quem tem mais paga mais; quem tem menos paga menos; e quem não tem, não paga! O Tarifa Zero consiste na gratuidade total do transporte coletivo municipal, hoje nas mãos da iniciativa privada. O custeio das passagens virá justamente dos setores econômicos que mais acumulam.
Folha - Em Franca, pela primeira vez, as eleições podem ter 2º turno. Isso é bom ou ruim para a candidatura de vocês?
Tito - Se levarmos em conta as pesquisas de intenção de voto publicadas até aqui, Franca não teria 2° turno, o que seria péssimo para a cidade. Essa é uma “verdade” que tem sido vendida nos últimos tempos, mas nós discordamos dela. Entendemos que o atual prefeito já atingiu o seu limite de votação antes do inicio da campanha. A tendência dele é perder eleitores, até porque sua coligação é composta por muitos partidos, inclusive com interesses divergentes. É pouco provável que ele mantenha seu “frankestein” durante toda a campanha. E o segundo turno é excelente por isso. O eleitor poderá votar na proposta que tiver mais identificação, dispensando a prática comum do “voto útil”.
Folha - Caso a eleição se mantenha polarizada para o 2º turno, vocês já tem um partido para apoiar ou é cedo para dizer?
Tito - De fato, ainda é cedo para dizer. Mas caso não estejamos no 2° turno, analisaremos o cenário e consultaremos todos aqueles que estão conosco. Posso antecipar que de forma alguma apoiaremos o atual prefeito. Nos demais casos, nossa posição final também deverá levar em conta a incorporação ou não de alguns projetos e bandeiras nossas.
Folha - O que considera de mais errado nas últimas gestões (PT e PSDB) na cidade?
Tito - O governo petista perdeu a oportunidade histórica de transformar de fato Franca na cidade da participação popular. O orçamento participativo, por exemplo, existiu apenas formalmente. Os conselhos municipais também. O atual prefeito, reafirmando a velha forma de fazer política, por sua vez, buscou cooptar as lideranças populares e controlar os conselhos municipais. Hoje a cidade não decide seu destino. E isso, nós iremos mudar!
Folha - Se tiver algo mais que queira colocar, fique à vontade.
Tito - Nossa proposta é de esperança na política, de fé no homem e na construção de uma cidade igualitária e democrática! As eleições devem servir para a população perceber que a política é um espaço fundamental da vida de todos nós. E que não podemos apenas depositar a confiança em “representantes”, mas lutarmos por participação direta das decisões. Os cidadãos de Franca têm alternativas e não precisam escolher entre o ruim e péssimo. Pretendemos conquistar não apenas eleitores, mas militantes que se identifiquem com a proposta coletiva que o PCB é representante, pois nosso programa político está sendo construído com a participação de diversos setores e movimentos sociais, ligados à luta pela Reforma Agrária, ao combate ao agronegócio, pela organização do trabalhador em empresas de autogestão, por uma cultura que valorize e estimule a produção local, as raízes regionais, a diversidade. Enfim, nosso diferencial será exatamente por apresentarmos um projeto político-social amplo, e não apenas um programa eleitoral.
Nenhum comentário:
Postar um comentário