Da Redação
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As cenas mais comuns vistas em Franca ontem foram pessoas com galões, baldes e garrafas de água em carriolas, porta-malas de carros, carrinhos de bebês ou nas mãos. Conseguir água foi uma tarefa árdua e gerou tumulto em pelo menos seis pontos da cidade. O recurso foi disputado pelas pessoas. Houve até ameaças. Em alguns bairros, a polícia foi acionada.
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Uma das confusões foi registrada num clube da cidade, localizado no Jardim Portinari. Pela manhã, várias pessoas que estavam no local para abastecer vasilhames em um poço artesiano foram impedidas por um funcionário. A decisão deixou as pessoas irritadas. Elas gritavam e empurravam o portão ameaçando invadir o recinto. "Faz anos que moro aqui e a água nunca acaba. É mentira", disse Kelly Cristina da Silva.
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Depois da confusão, a entrada foi liberada. Depois disso, os presentes passaram a implicar uns com os outros por causa do tamanho dos recipientes levados. Algumas pessoas estavam com tambores grandes para encher, enquanto outros usaram apenas garrafas pets.
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Ainda pela manhã, novos problemas foram registrados. No Jardim Panorama, os moradores disputaram a água de um caminhão-pipa após ameaçarem o motorista. O funcionário havia se dirigido até o bairro para abastecer a caixa d’água da creche da Avenida Primo Meneghetti, mas foi barrado. Os vizinhos o obrigaram a liberar a água para encherem seus vasilhames. Houve empurra-empurra.
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"Eles têm que liberar a água. Aqui no Panorama não veio caminhão nenhum. Estamos sem água para lavar louça, tomar banho, para nada, desde domingo", disse a moradora Geni Garcia, 57.
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À tarde, a reportagem tentou falar com os responsáveis na entidade, mas apenas uma funcionária chamada Cibele poderia comentar o caso. Ela foi procurada duas vezes, mas estava ocupada e não pôde informar se o abastecimento da creche foi feito e se haverá aulas normalmente. A Escola Estadual "José Carlos Panice", também do Jardim Panorama, abriu as portas para a comunidade encher galões, mas a ação gerou tumulto e a polícia precisou ser chamada para restabelecer a ordem no local.
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Mesmo nos bairros para onde a Sabesp enviou caminhões especificamente para a comunidade, houve transtornos. A dona de casa Helena Maria Domiciano, 45, moradora no Jardim Brasilândia II, está sem água desde segunda-feira. Ela ligou pedindo água para a Sabesp duas vezes anteontem, mas só nesta terça-feira o caminhão passou no bairro. Mas o veículo ficou estacionado longe e ainda precisou atender moradores de outras regiões. "Estão vindo pessoas de carro do Éden, do Palma e outros bairros e a gente fica sem.
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Minha filha de 5 anos está com catapora e eu não tenho uma gota de água em casa. Está muito desorganizado. Alguém tem que controlar a distribuição nos caminhões-pipa", disse.
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No cruzamento da Avenida Eliza Verzola Gosuen com a Rua Antônio Lobosqui, um caminhão com 15 mil litros abasteceu recipientes dos moradores, mas não foi suficiente para atender todos. Cerca de 30 pessoas que haviam esperado horas na fila voltaram para casa sem água. O problema causou irritação. Edina Maria Brito, 28, tem um filho de 1 ano e com a falta d’água ele está sem tomar banho. "Temos que fazer uma guerra contra a Sabesp. Direto eles fazem isso; três dias sem água é um desaforo", disse ela.
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PROTESTO
No Panorama, os protestos seguiram ao longo do dia. Depois da movimentação pela manhã, aproximadamente 50 moradores do Jardim Panorama, que estão sem fornecimento de água desde as 14 horas do último domingo, resolveram fazer um protesto à tarde. Com vários baldes (vazios) e carrinhos de bebês, eles fecharam a Avenida Primo Menegueti e não permitiram a circulação de veículos. A tática funcionou e a Sabesp mandou um caminhão-pipa para os moradores da região.
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O protesto começou às 13h30. Os moradores ficaram parados no meio da avenida gritando "queremos água, queremos água" e impedindo que os veículos trafegassem. Alguns motoristas chegaram a bater boca com os protestantes que passaram a gritar: "não passa, não passa, não passa", parodiando uma música de Roberto Carlos. Alguns motoristas buscaram caminhos alternativos. Outros passaram sobre a calçada.
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Por volta das 16h15 a polícia chegou ao local tentando acalmar os ânimos. Não adiantou. O protesto só terminou com a chegada do caminhão-pipa às 17 horas. À noite, moradores voltaram a protestar, colocando fogo em pneus e novamente impedindo o trânsito na avenida.
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Depois recomeçou quando a água do caminhão acabou. A falta de água causou revolta. "Pagamos as contas em dia. É um absurdo o que está acontecendo", disse Dulcinéia Silva, 40.
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Foto: "TEMPOS DE SECA - Moradores no Jardim Panorama disputam água de um caminhão-pipa que passou pelo bairro ontem: lá e em vários outros pontos da cidade muita reclamação e empurra-empurra para conseguir encher os vasilhames" (Gina Mardones/Comércio da Franca).
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