AGRONEGÓCIO, A VOLTA DA CASA GRANDE

A busca por alternativas ao petróleo é estratégica para a Humanidade. Entre as diversas possibilidades em estudo, o capital identifica o etanol como a melhor das alternativas. É uma fonte renovável, limpa e, também, uma oportunidade de obtenção de lucros exorbitantes e de fácil acúmulo de capital, por conta, principalmente no caso brasileiro, da quase escravização do trabalhador rural.
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O etanol feito a partir da cana de açúcar pode ser produzido, no Brasil, em larga escala, mesmo sem expansão da fronteira agrícola. Há, ainda, no país, muita terra agriculturável para futura utilização, sem risco para as florestas e áreas de preservação ambiental ou para a produção de alimentos. Mas, dada a atual estrutura fundiária brasileira e o caráter especulativo da atividade agrícola capitalista, pode-se esperar que, com a elevação dos preços do etanol e a garantia das vendas no mercado internacional, haverá certamente a diminuição e até a extinção de culturas. Os fazendeiros paulistas, por exemplo, tenderão a deixar de lado outros cultivos para plantar somente cana; os de Goiás deixarão de lado a soja. Assim, cairá sobre o conjunto dos trabalhadores a elevação do custo de vida, cairá o nível da segurança alimentar dos brasileiros.
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O capitalismo brasileiro está perfeitamente integrado à economia mundial. Esta integração, entretanto, é subalterna e perigosa. Subalterna porque tende a especializar o Brasil na produção e exportação de produtos agrícolas, o que deteriora os termos de trocas, ou seja, encarece as importações de máquinas e produtos manufaturados. E perigosa devido à entrada de capital estrangeiro no setor, o que torna o país mais vulnerável nas relações econômicas com o exterior.
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Aparentemente, o agronegócio brasileiro é moderno e competitivo. Nestes tempos de política neoliberal, tem sido o setor que apresentou melhores resultados: responde por cerca de um terço do produto interno bruto, 42% das exportações e 37% dos empregos. Obteve umataxa anual de crescimento, nos últimos anos, acima de 4,5%, maior que a do conjunto da economia. É o principal exportador mundial de café, açúcar, álcool, suco de frutas, tabaco e soja.
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AS APARÊNCIAS ENGANAM
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O crescimento do agronegócio se baseia na substituição do trabalho vivo pelo morto (uso crescente de máquinas) e na superexploração do trabalho: as condições de vida e trabalho dos assalariados rurais brasileiros equivalem às condições do período mais cruel da acumulação primitiva, no início do capitalismo na Europa. A grande maioria dos trabalhadores nas plantações são temporários e terceirizados, moram em habitações precárias, têm uma jornada de trabalho extenuante, fazem as refeições no próprio canavial, com nutrientes insuficientes. Muitas vezes usam drogas para driblar a fadiga.
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Segundo
Maria A. de Moraes e Silva (UNESP), a busca dos empresários rurais pela produtividade a qualquer custo está reduzindo drasticamente o tempo de vida útil dos trabalhadores volantes para cerca de 12 anos, o que se equipara à vida útil dos escravos dos canaviais, nos tempos da colonização. Os trabalhadores são obrigados a produzir em média 10 toneladas de cana por dia, ou seja, devem andar por volta de oito quilômetros e realizar cerca de 10 mil golpes de facão para ganhar cinco reais por tonelada de cana, incluindo os benefícios indiretos. Desde 2004 já ocorreram 20 mortes nos canaviais paulistas.
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É a volta da Senzala, em versão tecnológica.
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A ALTERNATIVA COMUNISTA
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O capitalismo está consolidado no campo brasileiro. Está integrado à indústria e ao mercado mundial. Sua estrutura atual é a que melhor atende aos interesses do capital. Não haverá nenhuma evolução no setor que, naturalmente, aponte para a priorização da produção de alimentos para o consumo de todos os trabalhadores brasileiros, para o fim da fome e da miséria.
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Assim como em outras culturas de grande escala, o cultivo da cana-de-açúcar para a produção de etanol deve dar-se em fazendas de propriedade pública, com trabalho assalariado. Simultaneamente, há que promover-se a desapropriação e a distribuição de terras nas áreas sub-urbanas – os chamados cinturões verdes – para a produção de hortifrutigranjeiros e outros produtos agrícolas para o abastecimento local.
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Este será um grande passo para a conquista da justiça social, da divisão equânime da renda, da inserção soberana do Brasil no mundo e para a construção do socialismo.
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Fonte: Imprensa Popular - Jornal do Partido Comunista Brasileiro, out. 2007, p. 3.

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